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Aceleração e angústia: o tempo desritmado da vida contemporânea

Vivemos em uma época marcada pela aceleração do tempo.


Adara Sánchez Anguiano | Behance

Não o tempo físico, mas o tempo vivido — aquele que organiza nossas experiências, relações e expectativas. Essa aceleração, longe de ser neutra, tem produzido efeitos psíquicos e existenciais profundos, entre eles, uma forma específica de angústia: a sensação constante de estar em atraso em relação a si mesmo e ao mundo.


O filósofo alemão Hartmut Rosa, na obra Alienação e aceleração, propõe que a modernidade tardia esteja estruturada em torno de um imperativo de “aceleração social”, isto é, a intensificação contínua do ritmo da vida em três níveis:

  • técnico (inovações),

  • social (mudanças culturais e institucionais) e

  • individual (pressão por produtividade e atualização).


O resultado, segundo Rosa, é uma forma de alienação onde não conseguimos mais nos relacionar de modo significativo com o mundo — tudo passa depressa demais para que possamos absorver e compreender


A angústia, nesse cenário,

surge não de uma falta de

opções, mas de um excesso delas


Essa aceleração está diretamente ligada ao que Byung-Chul Han chama de “sociedade do desempenho”, na qual o sujeito é ao mesmo tempo explorador e explorado. Em Sociedade do cansaço, Han afirma que a liberdade contemporânea tornou-se compulsão por autoaperfeiçoamento. Não há mais um patrão externo, mas uma voz interna que nos exige sermos mais eficientes, produtivos e conectados — o tempo todo. A angústia, nesse cenário, surge não de uma falta de opções, mas de um excesso delas, que nos paralisa e esgota.



Adara Sánchez Anguiano | Behance

Na vida cotidiana, isso se manifesta em sintomas comuns: dificuldade de concentração, sensação constante de insuficiência, crises de ansiedade ligadas ao futuro incerto, e até o esvaziamento de relações afetivas, pois a lógica da aceleração reduz o tempo disponível para o encontro e o cuidado. A filosofia, nesse contexto, pode exercer um papel terapêutico e crítico, ao revelar como certas estruturas sociais produzem sofrimento psíquico.


Retomar a crítica do tempo, como fazia Heidegger em Ser e Tempo, torna-se crucial. Para ele, a angústia autêntica é aquela que nos coloca diante da finitude e nos chama à responsabilidade por nossa existência. Mas, na sociedade atual, a angústia é muitas vezes desviada ou abafada por distrações e acelerações que impedem esse confronto existencial.


É preciso, portanto, pensar em estratégias de “desaceleração” como forma de resistência ética. Isso não significa recusar o mundo moderno, mas recuperar o direito de ritmar a própria vida, de fazer pausas, de estar presente nas relações e nos processos. A filosofia não oferece respostas prontas, mas propõe um exercício constante de lucidez diante de um tempo que tenta nos desorientar.




Referências:


HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes, 2017.

HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Trad. Fausto Castilho. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.

ROSA, Hartmut. Alienação e aceleração: por uma crítica da temporalidade na modernidade tardia. Trad. Alessandro Marcos Ribeiro. São Paulo: Unesp, 2019.




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